No dia 18 de setembro de 1996, a extinta TV Manchete estreava um de seus maiores sucessos: “Xica da Silva”, à época assinada pelo desconhecido dramaturgo Adalmo Rangel.
O nome do autor era um pseudônimo de Walcyr Carrasco, contratado do SBT e que decidiu escrever uma novela para a concorrente às escondidas de Silvio Santos.
Com apenas 17 anos de idade, a atriz Taís Araújo ganhou a missão de ser a primeira protagonista negra das novelas brasileiras e em uma trama muito forte e polêmica. Com alto apelo erótico, o folhetim também apostava em momentos de muita violência e até mesmo escatológicos.
Ambientada em Arrial do Tijuco (MG) no século XVIII, no Brasil Colônia, a novela tinha como figura central Xica (Taís Araújo), escrava do Comendador Felisberto Caldeira Brant (Reynaldo Gonzaga), homem poderoso designado pelo rei para extrair diamantes na região. Ele vende Xica a uma bordel, e para se vingar, a escrava lhe rouba uma fortuna em pedras preciosas.
Para não levantar desconfianças, a escrava enterra o baú com o tesouro para mais tarde comprar sua carta de alforria e passa a ser a escrava do Sargento-Mor Tomaz Cabral (Carlos Alberto). Sua nova ama passa a ser a perversa Violante (Drica Moraes), filha do sargento e uma das mais impiedosas vilãs de todos os tempos.
Na casa da família Cabral, Xica conhece o novo contratador da região, João Fernandes (Victor Wagner). Prometido em casamento para Violante, o rapaz se apaixona pela escrava e resolve comprá-la. Sem querer desagradar o contratador, Cabral vende Xica.
Diante do novo dono, Xica se recusa a dormir com ele, o que atiça ainda mais a paixão de João Fernandes. Depois que o contratador rompe com Violante e assume em público seu amor pela negra, Xica resolve se aproveitar. Já alforriada, a moça se torna uma dama da alta sociedade, com direito a um lago artificial e um navio dentro de sua fazenda, além de colecionar uma gama de mucamas.
Xica se torna praticamente a rainha da corte e passa a esnobar a sociedade que antes a humilhava. Sinceramente apaixonada pelo marido, contudo, a heroína precisa disputá-lo com Violante, que adoece de amor por João Fernandes e passa a fazer de tudo para destruir Xica.
A novela contou com cenas impensáveis para a atualidade. Em uma delas, Xica oferece uma feijoada a Violante, e quando a vilã elogia o tempero da iguaria, a escrava revela ter esquartejado e preparado a carne de Damião (Romeu Evaristo), um informante da bruaca em sua casa.
Outro momento assustador da novela é a morte da mãe de Xica, Maria (Zezé Motta): a escrava teve seus braços e pernas amarrados a quatro cavalos que, assustados por um tiro, correram em direções contrárias, esquartejando o seu corpo em plena praça pública.
“Xica da Silva” deu projeção a Taís Araújo, que também ganhou a chance de ser a primeira protagonista negra da Globo, oito anos mais tarde, em “Da Cor do Pecado” (2004). A trama foi reprisada pelo SBT em 2005.
Com a decisão da Globo em regravar “Pantanal”, outro marcante sucesso da Manchete, fica a expectativa para, caso o remake de Benedito Ruy Barbosa vingue, que a emissora dos Marinho faça uma nova versão para esse clássico de Walcyr Carrasco. O público agradece.
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