Em 14 de janeiro de 2011, ia ao ar o último capítulo da novela “Passione”, de Sílvio de Abreu. Esta foi a última trama, até o momento, do autor no horário nobre da Globo. Depois de “Passione”, Abreu assinou o desastroso remake de “Guerra dos Sexos” (2012) às 19h, e foi promovido a chefão de teledramaturgia diária da emissora.
“Passione” foi também a última novela a ser chamada de “novela das oito”. Sua sucessora, “Insensato Coração”, foi anunciada como “novela das nove”.
A trama iniciou com baixos índices de audiência e enfrentou críticas e rejeição, mas deu a volta por cima quando teve início sua ação policial, com mistérios e assassinatos. O grande destaque positivo foi a vilã de Mariana Ximenes, personagem carismática que foi adotada pelo público e se tornou a grande protagonista da história.
Já o destaque negativo, curiosamente, ficou por conta da mocinha de Carolina Dieckmann. A personagem foi uma das mais detestadas e rejeitadas da história do horário; a rejeição foi tamanha que a heroína morreu no desfecho da história, sem a menor cerimônia.
Relembre a trama
“Passione” partia do princípio da descoberta da milionária Bete Gouveia (Fernanda Montenegro) sobre um filho bastardo que julgava ter morrido há 55 anos, no parto. Ela descobre que ele foi dado a uma família de empregados italianos, que voltaram para o país de origem. Ávida a reencontrar o herdeiro e lhe entregar sua herança, Bete não desconfia contar um demônio dentro de casa: Clara (Mariana Ximenes), enfermeira de seu marido, ouve toda a história e traça um golpe.
Com a ajuda do namorado, o mau-caráter Fred (Reynaldo Gianecchini), que tem sede de vingança contra os Gouveia por julgá-los culpados pelo suicídio de seu pai, a ardilosa Clara viaja para a Itália após roubar as joias de Bete e se apresenta ao herdeiro, Totó (Tony Ramos). O camponês viúvo e simples, pai de quatro filhos, cai de amores pela bela jovem, que se faz de doce e recatada.
Clara e Totó se casam e ela o envolve em um golpe. Já Fred se une ao filho de Bete, o inescrupuloso empresário Saulo (Werner Schunemann), para ascender dentro da metalúrgica da família. Em determinado momento da história, Clara é desmascarada e o público acredita que ela está decidida a se redimir – mas o arrependimento da vilã é uma farsa: ela inicia um caso com Diogo (Daniel Boaventura) e traça o assassinato de Totó, tão logo reconquista o ex-marido.
A trama policial teve destaque através dos assassinatos do marido e filho de Bete: Eugênio (Mauro Mendonça) é envenenado e Saulo é encontrado morto a facadas em um motel. Outros mistérios e tramas fortes rondavam a narrativa: Gerson (Marcello Antony), filho de Bete, tinha graves problemas emocionais causados pelo trauma de ter sido molestado, quando criança, pela empregada da família, a asquerosa Valentina (Daysi Lúcidi).
Avó de Clara, Valentina a criou e a prostituiu desde criança. Quando era menina, Clara era oferecida pela avó a Saulo. Já adulta, a vilã o mata esfaqueado como vingança. Essa revelação encerra a história, em um flash-back de Clara: a vilã escapa da prisão e forja a própria morte, fugindo do país em busca de novos golpes. Já Fred acaba preso e condenado pelas mortes de Eugênio e Saulo – na verdade, foi o próprio filho quem matou o pai por envenenamento.
Rejeição e humor
A trama romântica da novela tinha como figura central Diana (Carolina Dieckmann), jovem jornalista que se casa com Gerson no início da trama, rejeitando o amigo de infância do rapaz, o apaixonado e íntegro Mauro (Rodrigo Lombardi). Mais tarde, Diana se arrepende de sua escolha e passa a correr atrás de Mauro dentro da casa do marido, já que Gerson se afunda em uma grave crise de depressão.
Para piorar, Melina (Mayana Moura), a charmosa e despojada irmã de Gerson, é apaixonada por Mauro desde adolescente e o público, à época, passou a torcer pelo casal. Como forma de garantir apoio dos espectadores à entojada e indecisa mocinha, Sílvio de Abreu tornou Melina uma vilã psicótica do dia para a noite. Mas ao final, o autor arrependeu de suas escolhas e Diana morreu no parto de sua filha com Mauro. O mocinho ficou com Melina, já redimida.
O ponto alto da novela, tão soturna e carregada, foi sem dúvidas o núcleo bem-humorado dos Reis do Lixo: os ricos Olavo e Clô (Francisco Cuoco e Irene Ravache) sofriam para entrar para a alta sociedade por terem enriquecido com uma empresa de lixo reciclável. A filha de Olavo, a perua Jéssica (Gabriela Duarte), também era enganada pelo marido, o malandro italiano Berilo (Bruno Gagliasso), que tinha outra mulher na Itália: Agostina (Leandra Leal), filha de Totó.
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