A reta final de “Por Amor” está já deixando aquele gosto de quero mais para os fãs do estilo de Manoel Carlos, autor da novela. Leblon, bossa nova, Helena, dramas familiares, barracos, mershan social… esses são alguns dos ingredientes para uma boa trama do cronista carioca. Vamos relembrar as cinco melhores novelas do Maneco?
História de Amor
Exibida em 1995, “História de Amor” foi ao ar às 18h e muitos a consideram uma síntese “in natura” do estilo que ele viria a intensificar no horário nobre. Claro que antes dessa trama, Maneco já havia bebido do cotidiano para contar dilemas familiares, mas em “História de Amor” ele naturalizou como nunca o dia a dia e situações simples para criar drama.
Para alguns fãs, sua novela das 18h foi seu estilo mais raiz por não ter se aprofundado totalmente na elitização e no glamour dos ricos, como em suas novelas sequentes. Sua Helena, a primeira vivida por Regina Duarte, era uma dona-de-casa simples, que ia à feira, ao supermercado, era divorciada do marido e, e quarentona, se descobria apaixonada por um homem de outro universo: um médico charmoso, recém-casado com uma garota mimada, Carlos (José Mayer).
Além do romance de Helena e Carlos com as intervenções de duas mulheres apaixonadas pelo galã, ela enfrentava a gravidez precoce da filha adolescente, Joyce (Carla Marins), uma menina mimada, arrogante e ingrata, considerada a pior das famigeradas “filhas de Helena”. Banhada por diálogos e situações comuns, a espinha dorsal de “História de Amor” nos parecia remeter ao nosso cotidiano, ao de amigos ou vizinhos nossos.
Por Amor
A primeira Helena de Regina Duarte no horário nobre é uma das tramas mais reexibidas pela Globo. Encerrando sua quinta exibição nessa sexta-feira, a trama é recordista de audiência e mostra que um clássico sempre terá espaço no coração do público.
O trágico enredo da mãe, que em atitude destemperada e ególatra, troca o filho recém-nascido e saudável pelo bebê morto de sua filha mimada é um épico de lágrimas, desdobramentos e reflexões. Ao redor dessa espinha dorsal que se alastra por capítulos e mais capítulos do sentimento de culpa de Helena e da crise em seu relacionamento com o marido, podemos acompanhar infindáveis barracos e subtramas envolvendo a família Barros Motta.
Neste cenários, nos deparamos a tipos inesquecíveis, como a vilã Branca (Susana Vieira), uma aristocrata que privilegia um filho enquanto rejeita os outros dois, e a obsessiva Laura (Vivianne Pasmanter), que se recusa a deixar em paz a rival Eduarda (Gabriela Duarte) e o ex-namorado, o mimado e machista Marcelo (Fábio Assunção). O casal Nando e Milena (Eduardo Moscovis e Carolina Ferraz), ao som da música-tema “Palpite”, também fizeram muito sucesso.
Laços de Família
Uma novela ainda mais simples do que “Por Amor” e sem as pitadas exageradas de maniqueísmo da outra obra, “Laços de Família” (2000) preza pelo cotidiano ao contar um sacrifício de uma mãe por uma filha ingrata, que se redime através de uma doença. Um drama retirado dos recortes de jornal.
Uma Helena (Vera Fischer) solar, bela e alto-astral que começa um namoro com um rapaz bem mais jovem, Edu (Reynaldo Gianecchini). Os preconceitos pela diferença de idade não os abalam, mas Camila (Carolina Dieckmann), a filha Judas da protagonista sim. Ao perceber a paixão entre os dois, Helena abre mão do amor por Edu para que Camila seja feliz.
Mas o grande sacrifício de Helena se dá quando ela engravida do pai biológico de Camila para salvar a vida da filha, que está com leucemia. A cena em que a garota raspa os cabelos é uma das mais emblemáticas da TV brasileira.
Mulheres Apaixonadas

A grande diferença entre “Mulheres Apaixonadas” (2003) e “Laços de Família” está no atrativo: enquanto a anterior tem uma história central forte e inesquecível, esta tem uma Helena (Christiane Torloni) com um drama mais fraco.
No entanto, a força das inúmeras tramas paralelas inesquecíveis fazem de “Mulheres Apaixonadas” uma de suas melhores crônicas de situações. Seria impossível descrever todos os núcleos apaixonantes da novela, mas as abordagens de conflitos de diferentes mulheres chamaram atenção: o alcoolismo, o lesbianismo, a violência doméstica, a violência urbana, o celibato, a virgindade feminina, o ciúme doentio, o câncer de mama e o romance entre pessoas de diferentes idades foram abordados.
Se é para destacar, fico com três núcleos: a professora Raquel (Helena Ranaldi), que era espancada pelo marido com uma raquete de tênis; a neurótica Heloísa (Giulia Gam), que corrói seu casamento pelo ciúme patológico que nutre pelo marido; e Fernanda (Vanessa Gerbelli), que morre vítima de bala perdida em uma das sequências mais fortes da novela.
Páginas da Vida
Apesar de já ser considerada um pouco mais fraca por ter um pouco de barriga e um inchaço no número de personagens, “Páginas da Vida” (2006) ainda é uma boa trama do autor.
A terceira Helena de Regina Duarte enfrenta um drama, como sempre, muito instigante e ainda promove a discussão da síndrome de Down. Helena fica com a guarda de uma menina Down que foi rejeitada pela avó, a amargurada vilã Marta (atuação brilhante de Lília Cabral). O irmão gêmeo recém-nascido fica com a avó, já que a mãe, Nanda (Fernanda Vasconcellos), morre no parto.
Cinco anos depois, o pai das crianças (que rejeitara a gravidez de Nanda) reaparece disposto a ficar perto dos filhos e entra em guerra judicial com Helena. A novela ainda abordou temas como bulimia, alcoolismo e racismo de maneira sensível.
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