Segundo Sol está no ar há pouco mais de um mês e já passou da fase de apresentar sua história e seus personagens. Como uma legítima novela de João Emanuel Carneiro, a trama se desenrola em ritmo ágil, sem medo de trazer rapidamente momentos considerados chaves, para o espectador.
A descoberta de que Miguel (Emilio Dantas) é na verdade Beto Falcão, por Valentim (Danilo Mesquita), o reencontro do mocinho com Luzia (Giovanna Antonelli) e o primeiro acerto de contas entre ela e Karola (Deborah Secco), são exemplos de episódios que poderiam ser facilmente postergados, se estivéssemos falando de outros autores.
Entretanto, o que vemos aqui é um rompimento contra o receio do esgotamento criativo, uma mostra de que mesmo com o desafio de escrever mais de cem capítulos de uma obra, as ideias não podem ser limitadas, guardadas a sete chaves como se não houvessem outras futuras para pôr no lugar. Obviamente, utilizando-se dessa estratégia, riscos são recorrentes – o público pode não querer mais acompanhar uma trama que já entregou os principais pontos de cara – porém, o que faz a diferença é a disposição para assumi-los, item que a equipe de Segundo Sol parece levar a sério.
Além de tudo, apesar de ter proporcionado ao público desfrutar de momentos importantes, a novela ainda reserva muitas cenas decisivas que asseguram de certa forma a fidelidade do espectador – o reencontro de Luzia com Ícaro (Chay Suede) e Manu (Luísa Arraes), agora como mãe e filhos; a descoberta por Beto que a mulher com quem viveu anos é amante de seu próprio irmão Remy (Vladimir Brichta); a revelação do segredo que liga Karola à Laureta (Adriana Esteves); dentre outros episódios, pelos quais o espectador aguarda com satisfação, uma vez que não lhes são tirados os direitos de acompanhar um produto que se preocupa em se manter interessante.
Com um roteiro bem pensado e um desenvolvimento linear, Segundo Sol ainda traz um elenco aplicado. Destacam-se principalmente Adriana Esteves, comprovando sua versatilidade ao dar vida a uma vilã tão cruel e divertida quanto sua inesquecível Carminha, mas mais fina e comedida; Letícia Colin, perfeita e carismática como uma mocinha arretada, não convencional e defensora dos direitos das mulheres; Fabíula Nascimento, que brilha desde o começo da novela encarnando as várias nuances de sua Cacau, a tia amorosa, a profissional bem sucedida e a mulher que também tem desejos; e Nanda Costa, numa interpretação sensível e delicada, vivendo uma personagem diferente de tudo o que já fez na telinha.
Demonstrando não só que sabe o que fazer, mas também como fazer, João Emanuel Carneiro traz de volta ao horário das nove o texto bem amarrado, sem redundâncias e menos maniqueísta, elemento que a antecessora de Walcyr Carrasco não apresentava. É verdade que a trama tem seus aspectos inverossímeis, exige flexibilidade do público e abusa algumas vezes de sua percepção assim como O Outro Lado do Paraíso, mas ela é o retorno à forma simples que consagrou João como um dos contadores de histórias mais queridos da teledramaturgia contemporânea.
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