O último capítulo de uma novela é sempre um momento em que o autor reserva grandes emoções, revelações surpreendentes, punição de vilões e finais felizes para seus heróis. Bem, isto é o que deveria acontecer. Existem algumas tramas em que o desfecho acaba frustrando o público: seja com soluções batidas e sem criatividade, com cenas estapafúridas ou revelações de mistério extremamente previsíveis, relembre alguns “gran finales” que deixaram a desejar.
Fina Estampa
Impossível falar de um final lamentável de novela e não citar a trama de Aguinaldo Silva que, apesar do sucesso de audiência, possuía um roteiro bastante questionável. O capítulo derradeiro começa em clima de suspense, com a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) incendiando o galpão onde mantém sua inimiga Griselda (Lilia Cabral) presa.
Na sequência, a heroína é resgatada, e a megera desaparece após sofrer um acidente em alto-mar. Casais felizes e um discurso bonito da Pereirão sobre valores éticos e morais, na colação de grau do filho médico Antenor (Caio Castro), mostram um aparente final “comum”. Mas a decepção já começa quando o autor opta por não revelar a identidade misteriosa do amante de Crô (Marcelo Serrado), que sempre se encontrava com um homem com uma tatuagem de escorpião no pé.
A cereja do bolo é, certamente, sua última cena. Griselda é surpreendida por um carro no meio da rua, com Tereza Cristina viva, riquíssima e com o visual repaginado, rindo debochadamente da cara da rival, que a persegue pelas ruas, apontando uma chave de grifo para cima.
Em Família
A novela de Manoel Carlos começou promissora, mas desandou quando chegou à sua 3ª e definitiva fase. Monótona e sem grandes viradas, ela não empolgava ao retratar o romance da mimada Luiza (Bruna Marquezine) com o psicótico flautista Laerte (Gabriel Braga Nunes), um homem abusivo e que havia sido noivo de sua mãe, Helena (Júlia Lemmertz).
Contrariando toda a família, Luiza bate o pé e decide se casar com o amado. A cerimônia até é concretizada, mas o protagonista é surpreendido na porta da igreja por uma de suas amantes rejeitadas: Lívia (Louise D’Tuani), uma personagem sem qualquer função na história, mata o músico a tiros, em uma rápida cena. Na sequência, a viúva viaja para Paris para espairecer e conhece um novo músico, por quem se interessa.
Um Lugar ao Sol
A história de Lícia Manzo começou muito elogiada pela crítica e por seus espectadores nas redes sociais, mas nunca fisgou a audiência, tendo amargado a pior média da faixa das 21h da história. Apesar de seus diálogos sensíveis e seus personagens dúbios, a trama naufragou por privar os espectadores de viradas típicas do folhetim.
O grande conflito da trama era a falsa identidade de Christian (Cauã Reymond), que assumira o lugar do irmão gêmeo morto para herdar sua fortuna. O usurpador engana toda uma família e sua ex-namorada, Lara (Andreia Horta), por toda a novela. No último capítulo, contudo, o público é poupado da cena em que Bárbara (Alinne Moraes) descobre ter se casado com um impostor. Magicamente, vemos a patricinha no tribunal, já ciente de toda a verdade, dando um testemunho sobre a farsa, que leva o estelionatário para a prisão.
Christian sai da cadeia alguns anos mais tarde, retoma sua vida humilde de sempre e engole com farinha a ex Lara sendo feliz com seu amigo de infância, Ravi (Juan Paiva) – o casal também foi muito criticado nas redes sociais, já que a moça sempre havia visto o jovem como um irmão caçula.
Belíssima
O que acontece quando uma novela gira em torno de uma porção de mistérios, criando falsas pistas e no final a solução para estes segredos é a mais óbvia e previsível possível? Um desastre. Apesar do sucesso de audiência, a trama de Silvio de Abreu decepcionou tanto o público em seu capítulo final que hoje mal é lembrada.
Por mais de 200 capítulos, levantaram-se muitas suspeitas sobre a identidade de um vilão misterioso, que contratara o crápula André (Marcello Antony) para roubar a fortuna da mocinha Júlia (Glória Pires). Paralelamente, Bia Falcão (Fernanda Montenegro) sempre se mostrou uma mulher monstruosa, capaz dos piores crimes para desestrutuar a vida da protagonista e tomar seu lugar no comando da empresa da família.
No final, descobrimos que era a própria vilã – que de misteriosa não tinha nada – quem comandava cada passo de André. Para piorar a situação, a megera ainda fugiu para Paris ao lado de um garotão (Cauã Reymond), sem pagar por nenhuma de suas incontáveis maldades.
América
Este final talvez não tenha sido exatamente desastroso, mas é fato que o desfecho da história de Glória Perez não agradou muitas pessoas. Criou-se, à época, uma grande expectativa em torno do destino da protagonista Sol (Deborah Secco) e da possibilidade do final feliz do casal Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) ser coroado com o primeiro beijo gay da TV brasileira.
A cena romântica foi gravada e alardeada, mas a Globo optou por excluir a gravação da TV de última hora. Por fim, após um cansativo romance de muitíssimas idas e vindas com Tião (Murilo Benício), Sol acaba terminando a novela nos braços de Ed (Caco Ciocler) mesmo. Ao ficar frente a frente com o ex-namorado, a mocinha se limita a dizer que “o amor dos dois é de muitas vidas, e se não deu certo nesta, dará na próxima”. O jeito é esperar…
Império
A morte do grande herói de uma novela não é bem um jeito correto de agradar o público. E foi essa a decisão do autor Aguinaldo Silva para o protagonista José Alfredo (Alexandre Nero). O público, que aguardava pela decisão do Comendador – dividido entre a mulher Marta (Lilia Cabral) e a amante Isis (Marina Ruy Barbosa) – se frustrou ao vê-lo terminar a trama morto, com um tiro nas costas disparado por seu próprio filho, José Pedro (Caio Blat).
O rapaz, que passou boa parte da trama como um covarde e filhinho da mamãe, mudou de personalidade de última hora para se revelar um vilão frio e calculista, que havia criado a identidade do chefe de quadrilha Fabrício Melgaço para destruir a vida do próprio pai.
Além dessa saída estapafúrdia para o mistério e da cena de extremo mau gosto – filho matando pai -, o capítulo final ainda deixou um desfecho em aberto: o Comendador surge por de trás da cortina de sua mansão para observar sua família reunida. Uma assombração? Uma segunda morte forjada – dado que o protagonista, em um determinado ponto da novela, se finge de morto para fugir da polícia? Nunca saberemos.
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