Primeira novela inédita a estrear na Globo depois do início da pandemia, “Nos Tempos do Imperador” está no ar desde agosto, mas parece não ter conquistado o público. A trama das 18h amarga baixos índices de audiência e já acumula a pior média da história no horário. Para se ter ideia, o capítulo transmitido no último sábado (27), em confronto direto com a final da Libertadores, no SBT, amargou apenas 9 pontos.
Não é só na audiência que o folhetim patina: é constantemente massacrada pelo público e pela crítica por seu revisionismo histórico. Na trama, o monarca Dom Pedro (Selton Mello) é tratado como um político progressista, benevolente e totalmente apoiador da abolição da escravatura. Em contrapartida, a mocinha da trama, Pilar (Gabriela Medvevodski), além de ser considerada uma chata de galocha e de não ter química nenhuma com o par Samuel (Michel Gomes), é considerada pelos espectadores como uma “whate savior”.
Essa expressão é utilizada para se referir à pessoas brancas retratadas com um heroísmo ególatra na tentativa de ajudar pessoas negras em histórias. Pilar já até sugeriu que estava sofrendo racismo reverso ao ser hostilizada pelos escravos da novela, e para piorar a situação, a grande vilã da narrativa é uma mulher negra, a dissimulada Zayla (Hesilaine Vieira). Nem mesmo a volta de dois personagens queridos de “Novo Mundo”, Germana (Vivianne Pasmanter) e Licurgo (Guilherme Piva), agradou.
A aparição dos trambiqueiros com aparência envelhecida mais irritou do que divertiu o público, e para completar, os personagens morreram de maneira trágica, numa cena bastante exagerada e constrangedora.
Quando uma novela definitivamente não funciona, tudo parece conspirar contra ela. Relembre outros casos de tramas que foram um desastre total.
O Sétimo Guardião (2018)
Todos devem lembrar da polêmica novela de Aguinaldo Silva, que resultou na demissão do autor veterano. Criada em uma masterclass pelo dramaturgo em parceria com seus alunos roteiristas, a trama deveria ser um resgate do formato realismo fantástico que consagrou o dramaturgo nos anos 1990. No entanto, a autoria da sinopse da novela terminou em briga judicial, com Silva sendo acusado de plágio por seus ex-alunos.
No ar, a novela não funcionou. Bruno Gagliasso, o protagonista, estava apático, e sua química com a mocinha de Marina Ruy Barbosa não rendeu. Para piorar, o galã apoiou, abertamente, críticas à novela e Aguinaldo Silva colocou o protagonista em coma durante muitos capítulos, chegando a assassiná-lo no final. Nenhuma trama sequer despertava a atenção do público, e foi inventado um mirabolante serial killer, que eliminou todos os guardiões da fonte milagrosa da trama, de maneira bastante constrangedora.
Nos bastidores, a novela da vida real chamou mais atenção que a própria história ficcional. Marina Ruy Barbosa foi acusada de ser o pivô da separação de Débora Nascimento e José Loreto, seu par na trama. Bruno Gagliasso foi um dos que viraram as costas para a ruiva no set de filmagens.
Velho Chico (2016)
A novela, que era para ser das 18h, foi promovida para o horário nobre depois do sucesso da reprise de “O Rei do Gado” em 2015. Mas nada ali funcionou: a direção de Luiz Fernando Carvalho, extremamente lúdica e fantasiosa, afugentou o público, que muitas vezes sequer conseguia compreender a história ou mesmo em que época a novela – que era contemporânea – se desenrolava. Muitos atribuíam ao folhetim um aspecto mórbido e sombrio.
Nos bastidores, o ator Umberto Magnani morreu logo nos primeiros capítulos. Na reta final, o protagonista Domingos Montagner se afogou no rio São Francisco em uma gravação da trama e também faleceu. No capítulo exibido no dia da morte do ator, uma cena de profundo mau gosto foi ao ar: a personagem Encarnação (Selma Egrei) se afogava e avistava um barco fantasma nas águas do Velho Chico.
Negócio da China (2008)
A primeira – e única – novela de Miguel Falabella no horário das 18h estreou com a excelente marca de 30 pontos, mas desabou do segundo capítulo em diante e nunca conseguiu se recuperar. Trama rocambolesca com muitos personagens, a trama mesclava aventuras dignas de histórias em quadrinhos, envolvendo incontáveis embates de kung fu na disputa por um colar milionário, com melodrama familiar, triângulos amorosos e o típico humor farsesco do escritor.
A mistureba não funcionou e o público por vezes considerava a história sem pé nem cabeça. Nos bastidores, muita polêmica em razão da escolha de Grazi Massafera para viver sua primeira protagonista – na época, a atuação da atriz era bastante criticada, e por vezes, o próprio Falabella demonstrou desconforto com o desempenho da loira.
Para piorar, o par de Grazi na novela, Fábio Assunção, foi afastado logo no início da trama, em razão de seus problemas com dependência química, e o mocinho foi simplesmente assassinado, entregando à inexperiente Grazi a ingrata missão de carregar a trama nas costas sozinha.
Esperança (2002)
Querendo embarcar no sucesso de “Terra Nostra” (1999), a Globo encomendou a Benedito Ruy Barbosa uma nova novela das 21h, de época, com a temática da imigração italiana no centro da narrativa. Até mesmo o elenco era similar: Ana Paula Arósio, Maria Fernanda Cândido e Raul Cortez figuravam entre os protagonistas das duas produções.
No entanto, para azar da emissora, “Esperança” foi rejeitada pelo público desde o início, e amargou durante anos a marca de pior audiência da faixa – 38 pontos, um escândalo para uma época em que as tramas facilmente superavam a marca de 45. O casal principal, formado pela então novata Priscila Fantin e Reynaldo Gianecchini, não vingou.
Em uma cena polêmica, Camilli, personagem de Arósio, destrói uma estátua de Maria (Fantin), criada por seu marido Tony (Gianecchini), a golpes de pá. Durante a sequência, Arósio desferiu um golpe no rosto do ator, que quebrou o dente, e machucou o próprio pulso. Na reta final, Benedito Ruy Barbosa se afastou do comando da novela, alegando problemas de saúde, e foi substituído por Walcyr Carrasco, que alegou que não acompanhava a trama.
Carrasco incrementou tramas típicas de seu universo, carregado de melodrama, maniqueísmo e humor pastelão. Até hoje, Ruy Barbosa se queixa dos rumos que seu substituto deu à novela e o critica pelo final de “Esperança”. Uma novela para se esquecer.
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