Foi ao ar nesta segunda (16), na reprise de Mulheres Apaixonadas, a emblemática cena em que Fernanda (Vanessa Gerbelli) e Téo (Tony Ramos) são baleados no meio de um tiroteio entre bandidos e policiais. Ferido na cabeça, o músico sobrevive, mas a ex-garota de programa não tem a mesma sorte. Após passar por cirurgia e agonizar durante alguns dias no hospital, ela acaba morrendo, para a infelicidade de Salete (Bruna Marquezine), que fica aos cuidados da avó megera, Inês (Manoelita Lustosa).
Manoel Carlos tinha em mente desde sempre o fim trágico de Fernanda. Ela morreria no início da trama, por volta do capítulo 50, mas a personagem caiu nas graças do público logo de cara, adiando assim o seu último suspiro para quatro meses depois. Mesmo após a morte, a moça continua aparecendo em espírito até o capítulo final. O autor ainda cogitou mudar o destino da coitada, mas prevaleceu a ideia original. De qualquer forma, Vanessa Gerbelli, que havia assinado um contrato de curta duração, foi chamada para estender o acordo.
A atriz foi escalada para a novela, mas recebeu poucos elementos para construir a ex-amante de Téo. “Eu só sabia que a Fernanda tinha uma relação ruim com a mãe, não podia contar com ninguém para confortá-la num momento difícil e ainda precisava zelar por uma criança que dependia exclusivamente dela. Foi a partir dessas informações que a criei”, disse ela, em entrevista ao jornal O Globo na época. Gerbelli, porém, já estava ciente que sua personagem deixaria a história: “Fazia cada cena pensando que ela poderia morrer logo a seguir”.
“Antes das gravações, o [diretor] Ricardo Waddington só me disse que a Fernanda tinha essa relação misteriosa com o Téo e que sua morte seria necessária para o andamento da trama.”
Cena histórica
A cena foi gravada apenas três dias antes de ir ao ar, mas já causava burburinhos há pelo menos dois meses. Setores da indústria de turismo protestaram contra a sequência, alegando que o episódio reforçaria a imagem de insegurança do Rio de Janeiro no exterior. A Globo teve dificuldade para conseguir uma liberação, que inclusive chegou a ser negada pelo subprefeito da zona sul da cidade. Por fim, o prefeito Cesar Maia deu a autorização.
Para realizar a gravação, uma rua no bairro Leblon precisou ser fechada. Dessa vez, as reclamações partiram dos comerciantes locais, mas nada que impedisse os trabalhos. Uma grande operação foi montada, mobilizando 180 profissionais, incluindo figurantes — aqueles que levavam seus próprios carros ganhavam um cachê a mais. Atrás das câmeras, centenas de curiosos acompanharam ao vivo aquilo que o Brasil só viu no sábado, dia 9 de agosto de 2003.
A cena fechou o 150º capítulo de Mulheres Apaixonadas. Exibido coladinho, o Criança Esperança abriu seu show reproduzindo as imagens impactantes da trama, com o ator José Mayer aparecendo diante das câmeras para discursar contra a violência: “Realidade ou ficção? Tanto faz. O importante é não perder a capacidade de se indignar, de reagir…”. Ao seu lado, Bruna Marquezine também disse algumas palavras: “Nós crianças precisamos de um mundo melhor para viver”.
No mês seguinte, vários atores da novela participaram de uma manifestação chamada Brasil Sem Armas, que reuniu cerca de 40 mil pessoas em uma passeata no Rio, com o objetivo de pressionar o Congresso a aprovar o Estatuto do Desarmamento, que veio a ser sancionado antes do final daquele ano. O movimento foi aproveitado dentro da história de Manoel Carlos. Tony Ramos, caracterizado como seu personagem, apareceu em uma cadeira de rodas. A essa altura, Téo já se recuperava do tiro que atingiu sua cabeça.