A novela Travessia já vem dando o que falar. A trama tem como fio condutor uma fake news devastadora a respeito da batalhadora Brisa (Lucy Alves), episódio que transformará a vida da mocinha para sempre.
Para criar a história, a autora Glória Perez se inspirou em um caso real. Em 2014, Fabiane Maria de Jesus, aos 33 anos, foi espancada até a morte no Guarujá, cidade do litoral paulista. Uma notícia falsa divulgada na internet associava a mulher a supostos raptos de crianças para a prática de magia negra.
Na ocasião, os moradores do bairro periférico de Morrinhos não falavam em outro assunto que não a “bruxa que sequestrava crianças”. Por isso, muitas mães passaram a proibir os filhos de brincar na rua. Há um bom tempo, já circulava entre os moradores da região um suposto retrato falado da mulher que estava praticando atrocidades contra crianças. Na verdade, a imagem era de um crime cometido dois anos antes, no Rio de Janeiro.
Quando a foto em questão viralizou no Facebook, a população da cidade decidiu fazer justiça com as próprias mãos. Fabiane não morava no bairro, mas tinha parentes ali. Em um sábado comum, após ter realizado uma mudança no visual, uma vez que seu cabelo era comprido e escuro e ela havia pintado de loiro e cortado, a dona de casa resolveu visitar um familiar, com sua bicicleta.
No trajeto, Fabiane se recordou de que que havia esquecido uma bíblia na igreja que frequentava e voltou para buscá-la. Ao chegar em Morrinhos IV, a mulher parou em um bar, onde sentou-se para beber uma cerveja. Ao avistar um menino de rua e ficar penalizada com sua situação, ofereceu a ele uma fruta. No entanto, a boa ação foi interpretada por moradores como uma armadilha para atrair a criança para um sequestro, visto que Fabiane carregava a bíblia de capa preta.
Uma voz feminina, então, vociferou em alto e bom som: “é ela”. Após o alarde, uma multidão gigantesca e enfurecida cercou a dona de casa, que foi amarrada, arrastada, chutada e espancada brutalmente. Um homem passou várias vezes com a bicicleta em cima de sua cabeça, enquanto civis filmavam o show de horrores para divulgar que a justiça havia sido feita.
Alguns moradores, preocupados com a possibilidade de Fabiane não ser a suposta criminosa em questão, decidiram acionar a polícia, enquanto o linchamento prosseguia. Ao final da agressão, a vítima foi abandonada, desacordada, em um colchão no meio da rua. Quando as viaturas chegaram, a multidão ainda estava ao redor de Fabiane. Os policiais só puderam se aproximar da dona de casa mediante uma condição: a imprensa precisaria estar junto.
Com a chegada dos jornalistas, a mulher foi resgatada e encaminhada ao hospital, mas morreu 36 horas mais tarde. Os médicos declararam que em caso de sobrevivência, ela teria ficado com sequências gravíssimas, em razão das inúmeras agressões no crânio e sangramento interno. Fabiane deixou um marido e duas filhas, de 12 anos e 1 ano. De todos os agressores, apenas cinco foram identificados pela polícia. Todos foram condenados e estão presos.
Entretanto, as pessoas responsáveis pela divulgação das informações falsas não foram responsabilizadas. A família de Fabiane entrou com um processo contra o Facebook, pedindo uma indenização de R$ 36 milhões. Nas duas primeiras instâncias, a família perdeu. O caso aguarda agora julgamento no STF.
Trágica história inspira novela de Glória Perez
Em Travessia, Brisa vive um drama semelhante. No início da história, a protagonista, que mora no Maranhão, tem seu rosto associado a uma notícia falsa feita a partir de uma montagem fotográfica, dando conta que ela é uma sequestradora de bebês. A informação inverídica chega até sua cidade, onde ela acaba passando o maior sufoco nas mãos dos populares.
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, onde terá ido encontrar o marido, Brisa buscará o socorro de sua madrinha, Creusa (Luci Pereira), empregada da incorruptível delegada Helô (Giovanna Antonelli), que a ajudará a esclarecer a verdade e perseguir o verdadeiro culpado de espalhar o boato. Ao mesmo tempo, o hacker Oto (Rômulo Estrela) se apaixonará pela jovem e a ajudará na condução das investigações.
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