Marco Pigossi deu um longo depoimento à revista Piauí, no qual relatou a jornada para assumir sua orientação sexual, desde a adolescência em São Paulo até a vida adulta como galã da Globo. Em novembro do ano passado, o ator resolveu deixar a sua homossexualidade às claras ao publicar uma foto com seu namorado, o cineasta italiano Marco Calvani, nas redes sociais.
No testemunho à revista, Marco revelou que, em seus doze anos de vida pública, tentou a todo custo esconder um relacionamento que manteve com um homem. Eles moraram juntos durante oito anos, mas a mídia nunca soube. Nessa época, entretanto, saiu uma matéria que apontava um suposto affair entre Pigossi e outro ator da novela “Fina Estampa” (2011) – especulou-se que seria Rodrigo Simas.
“Era mentira absoluta. A matéria não dava os nossos nomes, mas deixava claro de quem se tratava. Chegava a dizer que nós nos ‘pegávamos’ nos bastidores das gravações. Era tudo invenção, mas as pessoas acreditam no que querem acreditar. Eu fiquei travado ao ler aquilo”, disse Marco, que lembrou de ter sofrido uma crise de pânico no aeroporto.
“Fui para o banheiro do aeroporto, me tranquei em uma cabine e comecei a vomitar. Liguei para meu parceiro, chorando. Eu dizia para mim mesmo que minha carreira tinha acabado. Não conseguia sair dali. Meu companheiro teve que pegar um voo de São Paulo ao Rio para me buscar”, explicou ele, que passou a tomar remédios para lidar com o pânico.
Marco contou que sempre temeu expor sua orientação sexual por acreditar que isso prejudicaria sua carreira. Curiosamente, seu primeiro personagem de destaque na TV foi um homossexual afeminado, o Cássio da novela “Caras & Bocas” (2009). Durante as gravações, ele recorreu à terapia, três vezes por semana, para lidar com seus conflitos.
“Na minha cabeça, não havia nenhuma margem de chance para eu me assumir. Se fizesse isso, todas as portas se fechariam para mim de forma automática […] Aos 20 anos, eu estava realizando o grande sonho de trabalhar como ator na maior indústria de entretenimento do país, mas vivia um drama pessoal: sentia calafrio só de pensar que o público poderia desconfiar que a sexualidade do personagem e do ator era a mesma.”
No final de 2017, já com um nome estabelecido, após emendar vários mocinhos na dramaturgia, Pigossi resolveu não renovar contrato com a Globo, preferindo assinar com a Netflix. Ele confessa agora que, além de tentar buscar novos horizontes na carreira, a decisão passou também pela expectativa de que seria menos doloroso se assumir gay e trabalhar como ator morando em outro país. Ele vive atualmente em Los Angeles, nos EUA, com o namorado.
Foi Cavalani que, no feriado norte-americano de Ação de Graças, postou uma foto do casal de mãos dadas. “Ele me avisou antes. Eu topei, mas senti uma certa apreensão. Qual seria a reação das pessoas? Ele postou, e ficamos esperando. Começaram a pipocar alguns comentários na rede. Então, decidi repostar a foto com um stories na minha própria rede. Escrevi “choca zero pessoas” para tirar onda com os comentários do tipo ‘ah, mas eu já sabia’. Postei e fiquei com um frio na barriga”, disse Pigossi.
“Recebi mais parabéns do que no dia do meu aniversário. Foi uma libertação. Uma festa. Nada como viver às claras, ser o que se é em privado e em público. Talvez os futuros galãs não sintam o mesmo medo que eu senti de perder minha carreira.”
Em outro trecho do depoimento, Marco Pigossi falou sobre a difícil relação que tem com seu pai: “Meu pai votou em Bolsonaro. Durante os oito anos do meu namoro com um homem, minha família sempre soube. Mas meu namorado e eu nunca jantamos com meu pai, que jamais perguntou sobre meu relacionamento. Meu pai e eu tínhamos o hábito de pilotar moto. Juntos, chegamos a viajar de São Paulo à Patagônia, percorrendo mais de 5 mil km. Mas, apesar da proximidade física nas viagens, sempre houve um abismo. Minha vida amorosa era um não assunto. E, quando meu pai votou em Bolsonaro, senti uma dor profunda, uma tristeza profunda”.
“Afinal, Bolsonaro era o sujeito que dissera preferir um filho morto a um filho gay. Que gay é resultado da falta de surra. Que não é bom alugar uma casa para um gay porque desvaloriza o imóvel. Sempre tive dificuldade de entender como um pai escolhe votar num político que insulta seu próprio filho de modo tão visceral. Meu pai e eu ficamos sem nos falar durante o ano da eleição – e até hoje temos contatos apenas esporádicos. O abismo, que já era grande, tornou-se ainda maior. Meu pai é um cara afetivo, sensível. Sou o primeiro gay com quem ele lida. Pouco a pouco, espero que ele aprenda a lidar com naturalidade”, finalizou o ator.
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