A novela Travessia foi divulgada com toda pompa e circunstância pela Globo, com a missão de manter em alta os índices do horário, depois do sucesso de Pantanal. A trama de Glória Perez, vale lembrar, “furou a fila” do horário, que exibiria antes a novela Todas as Flores, de João Emanuel Carneiro.
Esta última foi realocada para o Globoplay e, curiosamente, vem sendo sucesso absoluto de público e crítica. Já o cartaz das 21h vem amargando índices de audiência semelhantes ao que registrava Um Lugar ao Sol (2021). A seguir, confira 6 razões pelas quais Travessia não vingou até agora.
Falta de história
Alguém realmente sabe em torno do que gira a trama de Travessia? O folhetim foi anunciado com a suposta premissa de debater crimes virtuais e fake news, retratando um caso da vida real, em que uma mulher foi espancada até a morte após ser falsamente acusada de sequestrar crianças.
Passado este plot inicial, com Brisa (Lucy Alves) perseguida por justiceiros de plantão, a trama se esvaziou. A fake news em questão foi gratuitamente criada por um adolescente, e agora, a protagonista está envolta em uma desinteressante batalha judicial pelo filho com o ex-marido Ari (Chay Suede), formando com ele, Oto (Rômulo Estrela) e Chiara (Jade Picon) um ainda mais insosso quadrilátero amoroso.
Jade Picon
A 22ª edição do BBB foi um fiasco. E Jade Picon foi uma das participantes mais rejeitadas pelo público do reality. Por que então a Globo decide investir em uma carreira de atriz para uma pessoa com um marketing tão negativo? Impossível de decifrar.
Jade não é atriz, nunca fez teatro. Não é exagero dizer que a influencer está robótica e inexpressiva. Se já trouxe incômodo a decisão de entregar para uma ex-BBB um dos personagens centrais de uma novela das 21h, posto que poderia ser de uma atriz de verdade, aturar Jade Picon em cena com uma personagem chata e mimada deixa tudo ainda pior.
Polêmicas de bastidores
Outro fracasso do horário, O Sétimo Guardião (2018), repercutiu mais pelas fofocas de bastidores do que pela trama em si. E Travessia caminha pelo mesmo destino: a atriz Cássia Kis, intérprete de Cidália, se assumiu uma bolsonarista fanática e causou mal-estar coletivo no elenco, interrompendo cenas para fazer rodas de oração e perseguindo colegas que não queriam votar em Jair Bolsonaro.
Com a vitória de Lula nas urnas, Cássia vem participando de atos antidemocráticos. A atriz também gerou insatisfação ao fazer uma fala homofóbica em uma live. Pressionada, a Globo optou por não punir a artista, que ainda conta com o apoio incondicional de Glória Perez.
Direção duvidosa
Mauro Mendonça Filho é um diretor de indiscutível talento. No entanto, algo em Travessia não funcionou. A novela tem tomadas exageradas, nada ali parece natural.
A direção de atores vai de mal a pior. Não é só Jade Picon que está péssima. Atores experientes como Rodrigo Lombardi, Vanessa Giácomo, Humberto Martins, Chay Suede e a própria Cássia Kis parecem estar extremamente desconfortáveis em cena.
Abordagem questionável da tecnologia
Novelas que abordam o universo da tecnologia são propensas à rejeição de público. Só para ficarmos em dois exemplos recentes, Geração Brasil (2014) e Tempos Modernos (2010) foram duas das tramas das 19h mais fracassadas de todos os tempos. E muito atribui-se à abordagem tecnológica a isso.
É de se questionar a razão de a Globo ter dado carta branca para Glória Perez criar uma trama focada em conceitos distantes do dia a dia do público, como multiverso e inteligência artificial. Pior: nada ali soa natural, diferente de outras histórias da autora, que apesar de temáticas mais complexas, cativaram o público.
Desperdício de talentos
Um dos destaques anunciados para Travessia foi o retorno de Giovanna Antonelli e Alexandre Nero como o casal Helô e Stenio, que arrebatou o Brasil em 2012, na novela Salve Jorge. No entanto, até agora os dois não explicaram a que vieram.
Se na trama da última década, Helô era uma delegada da Polícia Federal e personagem fundamental na trajetória da protagonista Morena (Nanda Costa), vítima de um esquema de tráfico humano, na atual história das 21h, a personagem foi “rebaixada” para a Polícia Civil e precisa ficar coibindo crimes como montagens feitas em redes sociais.