Explode Coração, trama de Gloria Perez que foi ao ar em 1995, está atualmente em cartaz no Viva e prepara sua despedida (dará lugar a A Indomada, clássico de realismo fantástico de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares). Como de praxe em todas as novelas da autora, Explode Coração traz um merchandising social forte e de impacto: o sequestro / desaparecimento de crianças.
Nesta semana da reexibição, o menino Gugu (Luiz Claudio Junior), filho da dançarina Odaísa (Isadora Ribeiro) consegue escapar de uma tentativa de sequestradores de tirá-lo do país e foge, ficando perdido e ao relento. A trama mobilizou telespectadores na época, e imagens de crianças desaparecidas mostradas na Cinelândia ajudaram, por meio de denúncias, a encontrar várias crianças.
O merchandising social em si é trazer temas importantes, e precisados de uma discussão ampla, para a tela da TV, apresentando-os aos telespectadores na tentativa de abrir discussões e desmistificá-los. Na lista a seguir, você vai encontrar alguns dos mais bem-sucedidos merchandisings sociais das tramas nacionais.
A barriga de aluguel
Estrelada por Cláudia Abreu, Cássia Kis e Victor Fasano, Barriga de Aluguel estava prevista para ir ao ar às 20h em 1986, devido ao tema polêmico para a época, sob o título de Novos Tempos, mas foi engavetada.
Em 1989, foi novamente preparada para ir ao ar às 20h, mas teve sua produção suspensa por Boni, que queria evitar mais tramas dramáticas no horário. Em seu lugar, estreou Tieta, que teve sua sinopse preparada a toque de caixa por Aguinaldo Silva. Em 1990, com título novo, a trama finalmente foi ao ar às 18h, e se consagrou como a quarta maior audiência do horário de todos os tempos, com 48 pontos de média.
A novela contava a história da aposentada jogadora de vôlei Ana (Cássia Kis) e do marido Zeca (Victor Fasano), que tem dificuldade de engravidar. Os dois recorrem ao recente e inovador método da barriga de aluguel, que acaba sendo a rebelde e apaixonante Clara (Cláudia Abreu, impecável). O problema é que, com o passar da gravidez ela vai se apegando à vida que se forma dentro de si.
A disputa das duas pela criança, que nasce no meio da trama, vai até os tribunais. Gloria Perez tentou equilibrar a torcida do público entre Ana e Clara pela guarda da criança fazendo com que, alternadamente, uma e outra personagem agissem com maior ou menor aprovação dos telespectadores.
Mas a torcida maior era mesmo por Clara, porque ainda prevalecia o senso comum de que mãe é aquela que carrega a criança no ventre. Barriga de Aluguel teve 243 capítulos, sendo uma das maiores tramas das 18h de todos os tempos.
A violência doméstica
Conhecido por suas Helenas e odes ao Rio de Janeiro em suas novelas, e também por abrir grandes discussões em suas tramas, Manoel Carlos abordou a violência doméstica, apenas um dos vários merchandisings sociais de Mulheres Apaixonadas, considerada por muitos o maior trabalho de sua carreira. Na trama, a professora de educação física Raquel (Helena Ranaldi) ia para o Rio de Janeiro fugindo dos abusos do marido Marcos (Dan Stulbach).
Em determinado ponto, ela começa a se envolver com um de seus alunos, o jovem Fred (Pedro Furtado), e Marcos ressurge, transformando a vida da professora num inferno. Um dos pontos emblemáticos na relação dos dois se deu na cena em que Raquel, no dia de seu aniversário, apanha violentamente do marido com uma raquete de tênis ao som de uma orquestra. Uma das cenas mais icônicas e perturbadoras da teledramaturgia nacional.
Manoel Carlos não previu que Marcos espancaria Raquel com uma raquete. A escolha foi circunstancial. Na verdade, o autor precisava inserir o personagem no universo da escola e o tornou um professor de tênis amador. Por isso ele vivia com uma raquete na mão. Manoel Carlos sugeriu a escalação de Dan Stulbach na novela após assisti-lo na peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz, de Bosco Brasil, em que o ator contracenava com Tony Ramos.
Os direitos das domésticas
Em Cheias de Charme, de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, as três Marias “empreguetes” lutavam por seus direitos e contra os abusos dos patrões. Uma trama musical pop e divertida que contagiou o público das 19h em 2012.
A patroa abusiva Chayene(Cláudia Abreu) pintava e bordava com suas empregadas, assim como a família Sarmento e seu conflito com a doce Cida (Isabelle Drummond). Discussões sobre o tema foram levantados durante a trama, inclusive processos judiciais e o lado da lei a respeito dos direitos domésticos foram mostrados dentro da novela.
A transexualidade
Sucesso estrondoso de audiência em 2017, A Força do Querer, trama de Gloria Perez, abordou através de Ivana (Carol Duarte) a descoberta da transexualidade. A personagem iniciava sua travessia na transição para seu verdadeiro gênero, o masculino
Para o Brasil, sendo o país que mais mata a comunidade LGBT, foi uma discussão importante levada para as mesas e rodas de conversa, diminuindo o tabu e abrindo mais o leque para o debate e aceitação/descobrimento de várias pessoas.
Os sem-terra
O MST e os boias-frias ganharam destaque na trama de Benedito Ruy Barbosa. De forte teor político, O Rei do Gado visitou a corrupção em plena câmara, e os movimentos na reivindicação de espaço dos mais necessitados. Uma das boias-frias da trama era a misteriosa Luana (Patrícia Pillar).
Atualmente no ar temos a corrupção e a prostituição de luxo em Segundo Sol, cartaz das 21h e o feminismo nos anos 1910 em Orgulho e Paixão, atual trama das 18h. As discussões são necessárias nos dias atuais em que a informação pode ser deturpada de várias maneiras, e a comunicação através das telenovelas é um dos métodos que caminha com o brasileiro há muito tempo, e é quase sempre bem sucedido.