“Cavalo Amarelo“, foi uma novela de Ivani Ribeiro, exibida entre 23 de junho e 29 de novembro de 1980, pela Rede Bandeirantes. Dirigida por Henrique Martins e David José, com supervisão de Wálter Avancini, a trama contou com 137 capítulos. Antecedida por “Pé de Vento“e sucedida por “Dulcinéa Vai à Guerra“, a novela completa hoje 38 anos de estreia.
Na história, a irreverente Dulcinéa (Dercy Gonçalves) luta para manter o Mambembe, um teatro de revista, cujo prédio pertence a tradicional família Maldonado. O patriarca, Salvador Maldonado (Rodolfo Mayer) é um homem conservador, que leva seu clã à rédeas curtas, mantendo o controle sobre os negócios e sobre os filhos: Joana (Márcia de Windsor), mulher elegante e esnobe, a maior defensora das ideias do “paizão” (como os filhos o tratam); Téo (Fúlvio Stefanini), que sempre acatou calado os desmandos do velho; Wálter (Walter Prado), dominado pela irmã mais velha e o preferido do pai; e Lalucha (Marta Volpiani), a caçula, estudante de cinema, contestadora e contra a caretice de sua família.
O conservadorismo de Maldonado acaba por minar o casamento de Wálter com Belinha (Carmem Monegal), por não conseguirem dar um tão desejado neto ao velho, e por Belinha não aguentar mais a passividade do marido diante dos desmandos do sogro.
Téo, por sua vez, se vê envolvido por duas mulheres. É noivo há anos de Maria do Carmo (Maximira Figueiredo), a retraída filha do Dr. Júlio Sampaio (Newton Prado), médico e amigo da família. Mas é apaixonado por Pepita (Yoná Magalhães) – sobrinha de Dulcinéa e estrela do Mambembe -, apesar do gênio difícil dos dois. Para não desmanchar seu compromisso com Maria do Carmo, o que causaria um grande desgosto ao pai, Téo inventa uma doença, que em crises momentâneas, o faz agir como uma criança. Mente para a família que faz terapia e que só se casará com sua noiva quando estiver curado. E assim, vai empurrando seu compromisso com Maria do Carmo enquanto leva seu caso com Pepita, marcado por altos e baixos.
Dulcinéa não vê com bons olhos o relacionamento da sobrinha, pois entra em constante conflito com a família Maldonado, que lhe cobra os alugueis atrasados do teatro, em constante crise financeira. Desbocada e impulsiva, a empresária vive batendo de frente com o velho Maldonado e com a pose de Joana, que não tolera seus modos e espontaneidade. Mas Dulcinéa descobre um trunfo que pode salvar seu show da falência: uma carta de amor de uma antiga amiga vedete ao Sr. Maldonado e a revelação de um filho bastardo, o que põe o velho em maus lençóis. Em troco do silêncio de Dulcinéa, Maldonado perdoa a dívida e ainda empresta dinheiro para incrementar os shows do Mambembe, o que acaba por surpreender toda a família.
Mas a morte do Sr. Maldonado e a abertura do testamento faz o grande segredo vir à tona: seu filho bastardo é Zeca (Kito Junqueira), o jovem e fiel empregado, homem de confiança e braço direito nos negócios. É quando a tradicional e unida família começa a desmoronar, na luta pela herança e divisão de bens.
Atordoado com a revelação de que era filho de seu patrão, Zeca encontra apoio no jovem Jaci (Wanda Stefânia), um rapaz pobre que recebe sua ajuda. Jaci trabalha com Dulcinéa, como iluminador do Mambembe, e também tem um segredo: se faz passar por homem, mas é uma mulher. Para poder competir no mercado profissional sem maiores barreiras, e assim ajudar o pai doente e sem recursos financeiros, a jovem assumiu a identidade de seu falecido irmão gêmeo. O segredo é compartilhado apenas pelo pai, Roque (Aldo César), que nunca gostou dessa história, mas que acabou acatando a atitude da filha. Tornando-se o protegido de Zeca, Jaci não resiste a paixão que sente pelo rapaz, e sofre calada, principalmente quando Zeca começa a namorar Sônia (Alzira Andrade) , prima de Jaci, que trabalha como dançarina no Mambembe.
“Cavalo Amarelo” lançou quatro trilhas sonoras:
Nacional: “Roda da Fortuna” (Kleiton e Kleidir), tema de abertura; “Incompatibilidade” (Oswaldo Montenegro), tema de Téo; “Condenados” (Fátima Guedes), tema de Jaci; “Pela Vida Afora” (Raul Ellwanger); “Chovendo na Roseira” (Banda Bandeirantes), tema geral; “Muitas Pessoas” (Secos & Molhados); “O Dia Seguinte” (Paulinho Nogueira), tema de Joana; e outras.
Internacional: “Why Not Me” (Fred Knoblock); “Pastures Green” (Rod McKuen); “Dreaming” (Stacy Lattisaw); “You Got To Lose” (George Thorogood); “Love At The First Night” (Sally Townsend); “Nature Boy” (Jon Hendricks); “Moments of Happiness” (Rosalie Sorrels); e outras.
Fundos Musicais: “Partido Alto” (Orquestra Daniele Patucchi); “Castigo” (Orquestra Riz Ortolani); “All By My Self” (Orquestra 88); “Grace” (Orquestra Armando Trovaioli); “Small Town Pleasures” (Orquestra Stelvio Cipriani); “Honey Moon in Three” (Orquestra Armando Trovaioli); e outras.
Ainda foi lançado um compacto com quatro canções originais feitas especialmente para a novela.
Curiosidades:
- Primeira novela de Dercy Gonçalves, uma trama deliciosa que aproveitava ao máximo o humor histriônico da atriz, e que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz, eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), em 1980, juntamente com Tônia Carrero, pela novela “Água Viva“, e Regina Duarte, pela série “Malu Mulher“. Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor atriz – juntamente com Dina Sfat por “Os Gigantes“.
- O sucesso da personagem de Dercy Gonçalves foi tão grande que atriz emendou uma novela na outra: “Dulcinéa Vai à Guerra”, substituta no horário, era uma espécie de continuação de “Cavalo Amarelo”. Nessa nova produção Dulcinéa se via às voltas com crianças abandonadas. Mas a novela foi um grande fiasco. Ivani Ribeiro não aceitou fazer a continuação, e Sérgio Jockyman assumiu o texto (sendo mais tarde substituído por Jorge Andrade, acionado para tentar salvar a novela).
- Por causa de Dercy Gonçalves, “Cavalo Amarelo” foi uma novela visadíssima pela Censura do Regime Militar. O pesquisador Cláudio Ferreira narrou no livro “Beijo Amordaçado – A Censura às Telenovelas Durante a Ditadura Militar”:
“Os censores (…), ao examinarem o capítulo 15, fizeram uma observação curiosa: ‘Recomendamos que seja solicitado o abrandamento dos pronunciamentos de Dulcinéa que, além de fugirem constantemente do texto previsto, estão a cada dia se tornando inconvenientes para o horário a que se destinam. Informamos que a personagem é representada pela atriz Dercy Gonçalves’.
A fama de desbocada da comediante a perseguiu durante toda a novela. No capítulo 26, os censores retiraram as expressões ‘xiriba’ (umbigo) e ‘lelé da cuca tá a sua progenitora!’. Argumentaram que ‘os tais termos ficam engraçados pela maneira que estão colocados e pela personagem da atriz’.
No capítulo 32, a censora Eni Martins França Borges foi mais direta ao vetar a expressão ‘porque não sai nem com bicarbonato’. Ela justificou: ‘Em se tratando por personagem interpretada por Dercy Gonçalves, tal frase tem sentido conotativo direto com ejaculação’. - Destaque para atuação de Wanda Stefânia, ao interpretar Jaci, uma garota que se fazia passar por homem para garantir o sustento da família
- Em 1996, na novela “Quem É Você“, Ivani Ribeiro utilizou-se do mesmo filão da troca de identidade de gênero. O personagem Maurício, interpretado por Thiago Picchi, fazia-se passar por mulher disfarçando-se de Thaís, para conseguir um emprego.
- “Cavalo Amarelo” contou com algumas participações especiais do meio artístico brasileiro: Moacir Franco, Hebe Camargo, Maria Alcina, Nelson Gonçalves, Tim Maia, José de Vasconcelos e Duda França.
- Reprisada em três ocasiões: em 1983, pelas manhãs;
de 02/01 a 21/07/1989, em 145 capítulos, de 2ª a 6ª feira, às 16h50;
e em forma compacta, de 02/01 a 22/03/1996, em 70 capítulos, de segunda a sábado, às 19h45.
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