Nos últimos anos, as novelas turcas conquistaram uma legião de fãs no Brasil e ao redor do mundo. Prova desse reconhecimento é que algumas dessas produções já foram premiadas com o prestigiado Emmy Internacional, a maior glória que programas e profissionais de televisão podem receber.
Mas há um elemento peculiar nessas histórias que salta aos olhos. Quem acompanha Força de Mulher na Record ou outra trama turca em algum streaming já deve ter notado que, até mesmo nas sagas mais açucaradas, há a ausência de cenas de beijo entre os casais — só ousam ultrapassar esse limite em raríssimos momentos, e ainda assim de forma discreta.
Enquanto as novelas brasileiras são conhecidas por cenas românticas intensas e beijos apaixonados, as novelas turcas seguem um caminho diferente, apostando no poder da sugestão. Os autores e diretores investem em olhares demorados, toques sutis e diálogos carregados de emoção.
Essa abordagem cria uma tensão romântica latente, que cativa o público ao potencializar pequenos gestos. Muitas vezes, essa sutiliza permite que o espectador sinta e interprete a cena de maneira mais profunda.
Contudo, a falta de beijos nos folhetins turcos não é meramente uma opção estética dos produtores. Essa prática também está ligada a questões culturais da Turquia, um país com uma população majoritariamente muçulmana, que possui costumes e valores mais conservadores, especialmente no que se refere ao comportamento em público.
Lá, o contato físico entre casais, mesmo fora da ficção, pode ser visto como inapropriado em algumas regiões, e essa mentalidade se reflete nas produções televisivas e outras manifestações artísticas.
Além dos valores culturais, a censura e a autocensura também contribuem para a ausência de cenas mais íntimas nas novelas turcas. O Conselho Superior de Rádio e Televisão da Turquia (RTÜK) é um órgão governamental que regula o conteúdo transmitido na televisão e pode punir as emissoras que exibem sequências consideradas imorais ou inadequadas.
Como resultado, os roteiristas acabam se autocensurando, evitando escrever situações que possam gerar polêmicas ou serem interpretadas como transgressoras.
Há debates sobre o quão democrática a Turquia é atualmente, especialmente considerando que o presidente Recep Tayyip Erdoğan está no poder há 22 anos. Alguns especialistas e organizações internacionais apontam para retrocessos na liberdade de expressão, imprensa e direitos humanos.
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