Aguinaldo Silva está preparando sua nova novela para a Globo. Três Graças, prevista para substituir Vale Tudo na faixa das nove, vem com uma proposta ousada para atender aos hábitos de consumo rápidos e dinâmicos do público moderno. Na visão do autor, o tempo de sequências arrastadas já passou.

“Você tem que lembrar que está concorrendo com TikTok. Não pode fazer aquelas cenas longas. Nesta nova novela, logo no começo tem um jantar que reúne duas famílias ricas em torno de um determinado assunto. Chegou a hora de escrever. E aí pensei: ‘Mais um jantar? Ah, não, vou fazer acontecer alguma coisa, e o jantar não acontece’. Isso que fiz”, contou em entrevista à coluna Play, do O Globo.
“Morre um parente de um dos personagens, e o jantar é um desastre total. Hoje em dia você tem que tomar cuidado com aquelas sequências de almoço, as pessoas conversando trivialidades… Não pode perder tempo. Tem que ser curto e grosso. É a minha opinião, não falo em nome do gênero. Aprendi com as séries. Sou completamente viciado. Na pandemia acompanhei tudo”, completou Aguinaldo.
A trama de Três Graças, agendada para estrear em outubro, gira em torno de uma família de mulheres que compartilham uma experiência comum: todas engravidaram na adolescência e enfrentaram a maternidade sozinhas. O desafio das duas primeiras gerações é evitar que a história se repita para a terceira. A neta representa a última chance de mudança.
A ideia original surgiu durante a pandemia, inicialmente como uma minissérie sobre um roubo, mas logo evoluiu para algo mais complexo. Ao lado dos coautores Zé Dassilva e Virgílio Silva, a história foi moldada e enviada para a Globo por um agente.
“Ficou lá um bom tempo sem que eu tivesse resposta. Depois de quase um ano, fizeram contato comigo, disseram que tinham gostado muito e perguntaram se eu poderia escrever o primeiro capítulo. Escrevi, eles também gostaram e pediram mais cinco. Por aí foi. Assinamos contrato e estamos os três a trabalhar.”
Aguinaldo Silva

Aguinaldo contou que a ideia da novela surgiu de uma experiência pessoal ao visitar uma maternidade no Rio de Janeiro, onde ficou chocado com o número de grávidas muito jovens. Isso o motivou a escrever sobre mães adolescentes abandonadas pelos pais de seus filhos, uma questão social que permanece latente. A trama, com uma linguagem acessível, busca retratar essa realidade.
Em relação à escolha do elenco, Silva esclareceu que o processo de seleção não está centrado em seu desejo pessoal de trabalhar com determinados atores, mas envolve um equilíbrio entre o autor, o diretor e a emissora.
“Não sei de onde saiu uma história sobre convite ao José Mayer. Eu sei que ele não quer trabalhar. Não fiz convite algum. Nem para ele nem para Betty Faria. Estou preocupado em escrever. Houve época em que autores escalavam. Agora, muito justamente, é um trabalho de uma equipe”, afirmou.
Apesar de sua saída da Globo após o fracasso de O Sétimo Guardião (2018), o veterano garante que sua relação com a empresa permanece cordial: “Sempre disse que não tinha mágoa da Globo. Pelo contrário, devo muito. E ela também me deve. Estamos empatados e seremos felizes para sempre”.
Aguinaldo também não esconde o seu carinho por Vale Tudo, uma das novelas mais marcantes de sua carreira, e reconhece que sente uma certa inveja da adaptação escrita por Manuela Dias, que estreia dia 31 de março, substituindo Mania de Você.
“É complicado falar porque sou completamente apaixonado por Vale Tudo. Foi um dos momentos mais mágicos da minha vida. Tudo dava certo. Não vou negar: como único autor vivo da novela, tenho certo ciúme. Mas estou com expectativas, quero ver, porque, claro, é outra época. Outros tempos, outros costumes.”
Aguinaldo Silva

Ao falar sobre remakes, o dramaturgo confessou ser cético em relação à capacidade de recriar algo tão singular. “Você vê: Tieta, de 1989, está no ar agora. As pessoas estão amarradas na TV à tarde para assistir. A novela acontece naquele momento. É uma coisa mágica. Funciona ou não. Fico com medo de ver remakes por causa disso, porque aí já não é mais aquela novela, é outra. Tem outro elenco, outra direção, outro tom. Vou ser bem sincero: não sou fã de remakes. Mas eles são feitos e funcionam, né?”, declarou.
Por fim, Aguinaldo refletiu sobre os novos hábitos e demandas do público de hoje em dia, o que fatalmente impacta na audiência da televisão. “Acho que, na fase áurea das novelas da Globo, havia uma conjunção de fatores que fazia com que elas funcionassem. Um fato muito importante que a gente não pode deixar de levar em conta é que as pessoas só tinham as novelas”, ressaltou.
“Não havia TikTok e essas coisas todas paralelamente. Ela não é mais a senhora absoluta do destino. Hoje tem que concorrer com muita coisa. Dificilmente haverá um sucesso tão extraordinário como era rotina acontecer. Foi uma época mágica que não vai se repetir nunca mais”, completou.
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